
Queremos mesmo a felicidade? Ou assusta-nos?
Desde o início da minha idade adulta que me lembro de viver com uma enorme necessidade de… certezas e garantias. O que pode ser avassalador, uma vez que pouco ou nada controlamos e só o facto de estarmos vivos já implica risco.
Na minha opinião esta necessidade é comum a todos os seres humanos, mas alguns de nós sentem-na com mais intensidade e outros nem querem pensar muito no assunto.
Acredito que, as pessoas que vivem a vida de coração inteiro lidam melhor com o desconforto da incerteza.
Esta necessidade de garantias, acentuou-se grandemente quando o João (meu marido) ficou gravemente doente.
Existe a minha vida antes da doença do João e, depois da doença do João. Na realidade este acontecimento foi devastador, mas também um grande momento impulsionador de despertar.
Quando o João ficou gravemente doente, para além de ter ficado sem chão, aterrada de medo de perder o Homem que amava, também percebi claramente e definitivamente que na vida temos garantias de muito pouco ou mesmo nada. Eu já sabia disto, mas senti-lo na pele, foi aterrador.
Foram tempos muito duros e difíceis! A falta de garantias e a incerteza estavam chapadas na nossa vida todos os dias – ainda estão, mas lido com isso de outra forma.
Por causa deste facto durante os primeiros 3 anos após o diagnóstico, fui-me fechando aos sonhos, aos projetos para o futuro, não me permitia sentir muito feliz, mesmo quando tinha motivos para isso. Até quando as notícias sobre a saúde do João eram boas eu refreava a felicidade e a gratidão, pois tinha medo que a catástrofe se instalasse novamente.
Pensava que, se não me permitisse abrir-me à felicidade, sofreria menos se as coisas voltassem a ficar difíceis.
Vivi estes sentimentos em silêncio, nunca os partilhei com ninguém, só mais tarde, quando já não aguentava mais, e voltei a procurar a ajuda da minha terapeuta.
O Ser Humano busca tanto a felicidade e temos tanto medo dela!
Permitir-me ser feliz, fazia-me sentir vulnerável e eu não era muito boa a sentir-me vulnerável.
Quando me permitia sentir verdadeiramente feliz, tinha a sensação que estava a abrir o flanco à dor.
Percebi ao longo do caminho, que não me permitir sentir feliz integralmente, não me preparava para a dor e também não me dava mais certezas e garantias. Apenas me estava a impedir de viver de coração inteiro e plena para mim e para todos os que mais amo.
Queria muito reverter este processo. Precisava urgentemente de aumentar a minha tolerância ao desconforto de viver com risco.
Comecei por praticar intensamente a gratidão, mesmo quando não acreditava nela, por vezes estar grata na adversidade fazia-me sentir que poderia estar a atrair mais dificuldades para a minha vida.
“Muitas pessoas perdem pequenas felicidades, enquanto aguardam a grande felicidade.”
Pearl S. Buck
Com o tempo e a pratica intensiva, a gratidão começou a soar-me verdadeira e a felicidade começou a revelar-se no meu coração, como que ancorada pela gratidão, pela fé e pelo espírito.
Percebi que na realidade, o escuro não destrói a luz, é o nosso medo que a atira para as sombras.
Hoje em dia, tolero muito melhor o desconforto da incerteza. Acredito do fundo do coração que sentirmo-nos gratos e permitirmo-nos sentir felicidade são na realidade os melhores alicerces que nos suportam durante os tempos difíceis.
Faço planos q.b. para o futuro, não porque tenho medo de os fazer, mas sim porque não quero perder a oportunidade de sentir o momento presente. É o único momento que é realmente meu.
Não quero procurar a felicidade nas hipotéticas coisas extraordinárias que futuramente me poderão acontecer, quero viver a felicidade nas coisas simples e comuns, no Agora.
Por vezes alguns momentos de felicidade passam-nos completamente ao lado, porque estamos absolutamente focados em buscar felicidade apenas em momentos extraordinários.
ESTÁ TUDO BEM…, eu escolho viver grata e feliz, agora!
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@orlanda_sampaio
Gratidão, felicidade, tolerância, verdade, amor…
É incrível como a vida pode ser tão simples e compensadora se soubermos estar atentos.
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