Falar de luto e de amor podem parecer à primeira vista dois conceitos completamente antagónicos. A verdade é que não são.
Para que exista perda e consequente processo de luto, tem que existir vínculo afetivo. Só quem ama, sofrerá a dor da perda.
Quando perdi o meu marido, apesar de ser uma morte que se fazia anunciar, ainda hoje não consigo descrever o quão emocionalmente avassalador é um processo de sobreviver à morte da pessoa que tanto amamos, que é a nossa estrutura, o nosso presente e o nosso futuro.
No entanto é em nome desse amor, dessa pessoa com quem tive o privilégio de partilhar 20 anos da minha vida, que escolho olhar para o luto com amor. O processo de luto é para mim a continuação da nossa história de amor.
Eu escolho sobreviver a esta perda por amor e honra a quem foi e também por amor a quem fica.
O luto pode ser entendido como uma forma de amor, pois embora avassaladoramente doloroso, é o processo natural de enfrentar a perda de alguém amamos. Quando perdemos alguém significativo das nossas vidas, é natural sentir uma grande dor e uma sensação de vazio. Esses sentimentos intensos são a expressão do amor que sentíamos pela pessoa que perdemos.
Ao permitirmo-nos vivenciar o luto com todos os protestos que necessitarmos de fazer podemos encontrar forças e uma forma própria para honrar a vida que se foi, ao nosso ritmo e segundo as nossas regras.
Para além disso, durante o luto, por mais avassalador que esteja a ser, deve auto- cuidar-se, peça ajuda para o que não consegue fazer sozinho neste momento. Busque apoio emocional e físico, se sentir que é isso que necessita. Mostre-se vulnerável, sem vergonha. Não conheço forma de amor mais corajosa do que vivermos a nossa dor sem máscaras.
Quando o meu marido faleceu, infelizmente não tive tempo para vivenciar a minha dor em toda a sua plenitude. Ficaram muitas pontas soltas por resolver e todo a minha volta clamava pela minha atenção. Acabei por fazer esse luto mais tarde, quando tudo ficou mais calmo, mas sinto que não o fazer na altura certa ainda o torna mais doloroso.
Para mim o luto é uma história de amor, afinal a morte termina com uma vida, mas nunca terminam as nossas relações com essa vida.