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O meu manifesto de Luto

Quando perdi o meu marido, o João, o meu mundo estilhaçou-se em milhões de pedaços. Senti-me vazia e perdida. Ele era a minha estrutura, o meu mundo. A minha vida tal como a conhecia até ali, nunca mais seria a mesma. O mapa que havíamos traçado já não servia. A vida estava a forçar-me a traçar um novo mapa e eu não sabia como fazê-lo. 

As pessoas à minha volta, que tanto me amam, só queriam que aquela dor passasse e eu voltasse à minha vida “normal” e “feliz”. As pessoas não aguentam o desconforto de serem confrontadas com uma dor, que sabem que um dia também lhes acontecerá. 

Embora o luto seja uma jornada pessoal e única, gostaria de partilhar algumas declarações que se tornaram no meu manifesto de luto:

  • Eu reconheço que o luto é um processo difícil, desafiador e muito doloroso, e não há um cronograma definido. Preciso ter paciência e compreensão comigo mesma, permitindo-me sentir todas as emoções e sentimentos que surgem.
  • Eu peço compaixão e empatia às pessoas ao meu redor, para que eu possa expressar as minhas emoções e sentimentos sem medo de ser julgada ou criticada. 
  • Preciso lembrar-me que é normal sentir-me triste, confusa e até mesmo com raiva em alguns momentos.
  • Eu reconheço que o João deixou uma marca em forma de tatuagem na minha vida e, por isso, escolho honrar as suas memórias, vida e a nossa história. Ainda que seja doloroso, eu escolho permitir-me lembrar-me e falar dele com as pessoas que se importam comigo e com quem ganhou o privilégio de conhecer a nossa história.
  • Eu entendo que o luto pode afetar a minha saúde mental e física, bem como os meus relacionamentos e o meu trabalho. Por isso comprometo-me a pedir ajuda sempre que necessário, sem me sentir envergonhada ou culpada. 
  • Eu peço que meus rituais de luto sejam respeitados e valorizados, independentemente da sua natureza ou tradição. Preciso permitir-me honrar e lembrar-me do João da maneira que faz sentido para mim.
  • Eu reconheço que o luto não é uma fraqueza ou uma falha pessoal. Permito sentir todas as emoções e sentimentos que surgem, sem me sentir envergonhada ou estigmatizada.

Este é o meu manifesto de luto. Convide-o a fazer o seu. Não tem que ser perfeito, apenas deve refletir o que sente com verdade e em verdade no seu tempo e segundo as suas regras.

Sentir-me-ia muito honrada se o partilhasse comigo.

Com amor,

Orlanda Sampaio